Coisas do Bolzoni

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O BEIRA-RIO É NOSSO!

Talvez a principal razão da disseminação do futebol pelo mundo seja a simplicidade do equipamento necessário: em um terreno qualquer, com grama ou sem, dois grupos de crianças de pés descalços chutam uma bola de meia em direção a uma meta formada por dois tijolos. Aí está um jogo de futebol, tão apaixonante para quem o disputa quanto para quem assiste. E é para facilitar a vida de quem assiste que os lugares em que hoje se joga futebol mudaram tanto desde há pouco mais de um século. Se o gramado, as traves e a bola mantêm as mesmas dimensões desde que os ingleses escreveram as regras do esporte, o entorno do campo mudou radicalmente: onde cavalheiros e senhorinhas finamente vestidas torciam lencinhos sentados – quando havia onde sentar – em cadeiras ou tábuas de madeira, hoje podemos ter poltronas estofadas em camarotes com serviço de garçon e uma TV de alta resolução para o replay dos lances duvidosos.

O Estádio do Sport Club Internacional está em algum intervalo entre aquela origem e esse cenário. Desde a fundação, andarilhamos vinte e dois anos por campos de Porto Alegre até nos tornarmos proprietários do Estádio dos Eucaliptos. Os sucessos vieram, a Torcida Colorada cresceu até se tornar a maior do Sul do Brasil e, em menos de trinta anos, o velho Estádio ficou pequeno. O mesmo Ildo Meneghetti cujo nome batizou o Estádio dos Eucaliptos foi decisivo para arrumar um espaço melhor para o Clube: um lote dentro do Guaíba! E dentro desse lote, a mobilização da Torcida Colorada comprou centenas de “boias cativas”, doou sacos de cimento e tijolos e viabilizou a construção do maior estádio particular do Sul do Brasil.

Ao longo dos últimos quarenta e dois anos, o Estádio Beira-Rio testemunhou transformações profundas no cenário do futebol mundial: os estádios não apenas tornaram-se mais modernos, confortáveis e convidativos para o comparecimento de mulheres e crianças, mas passaram também a permitir a geração de vultosas receitas com a realização de megaespetáculos musicais e com a locação de espaços para lojas e restaurantes. E o Beira-Rio ficou ultrapassado, a ponto de uma Diretoria do Internacional ter cogitado seriamente botá-lo abaixo para a construção de uma arena moderna.

Mas um Clube de Futebol não é um espaço para a racionalidade pura. A mesma paixão que não permitiu a demolição do Beira-Rio não deixou o Clube embarcar na onda enganosa das “parcerias” empresariais que quase arruinaram clubes menores. E o Internacional resolveu, por sua conta, modernizar gradativamente o próprio Beira-Rio, ao longo de uma série de pequenas reformas pontuais que o fizeram ser escolhido pela FIFA para sediar alguns jogos da Copa do Mundo de 2014.

Contudo, muito antes de o Brasil ter sido escolhido para sediar a Copa e muito antes de Porto Alegre ter sido escolhida como uma das cidades anfitriãs, o Internacional já havia projetado uma reforma completa do Estádio Beira-Rio, em proveito de sua própria Torcida, atendendo os mais exigentes padrões de conforto e segurança. Assim, a única mudança trazida pela Copa seria o estabelecimento de um prazo mais curto para a conclusão dos trabalhos. Nada para assustar um Clube que construiu um Gigante dentro d’água. Sem mais demora, em 29 de julho de 2010, com a presença do presidente Lula, as obras foram iniciadas  com a colocação das fundações da cobertura de aço. Um mês depois, o antigo Estádio dos Eucaliptos foi leiloado e o Internacional capitalizou-se para acelerar a execução das obras.

Todavia, 2011 começou e algo mudou. Mal tomou posse, a nova Diretoria convenceu-se da incapacidade do Internacional em executar sozinho as obras e apresentou ao Conselho Deliberativo a escolha: ou contrataríamos a construtora Andrade Gutierrez para executar a obra ou o Estádio Beira-Rio seria descredenciado para a Copa do Mundo, pela impossibilidade de o Internacional obter as garantias financeiras exigidas pela FIFA. O preço seria a entrega de todos os espaços rentáveis do Estádio (camarotes e suítes, tanto os atualmente existentes quanto os que serão construídos, além de cadeiras VIP, lojas, restaurantes, garagem, etc.), além do direito de dar nome ao Estádio reformado (!). Não bastasse isso, o Internacional passaria a ser o inquilino de sua própria casa, pois teríamos pouco mais de quarenta dias por ano para mandar os nossos jogos, ficando o resto do tempo à disposição da construtora.

Pressionado, o Conselho Deliberativo engoliu essas condições draconianas e autorizou a Diretoria a negociar com a construtora. Pouco depois, as máquinas silenciaram à espera de uma definição do contrato. A obra parou, o tempo foi passando, um quarto das arquibancadas inferiores está destruído e até agora a empreiteira não apresentou suas condições concretas para assumir a obra; resultado: o Beira-Rio não foi credenciado para receber a Copa das Confederações. Tudo indica que a Andrade Gutierrez joga com o tempo para obter concessões ainda maiores que as que a Diretoria do Internacional parece disposta a fazer.

A passagem do tempo deixou a coisa ainda pior, quando soubemos que outras empresas manifestaram à Diretoria do Internacional o seu interesse em formular uma proposta e solicitaram um prazo maior para o fazer (coisa absolutamente razoável em uma obra dessa natureza), tendo sido desconsideradas sem maiores explicações sob o argumento – que hoje sabemos ser falso – da urgência da contratação e do reinício das obras. O resultado é que, se hoje não temos outros parâmetros para comparar a proposta da Andrade Gutierrez, isso se deve exclusivamente à postura da Diretoria do Internacional.

Ante essa situação, nós, Conselheiros e Torcedores Colorados declaramos publicamente a nossa contrariedade com a tal “parceria”. Não há mais tempo a perder com a Andrade Gutierrez: enquanto o Internacional investiu seus próprios recursos, as obras do Beira-Rio avançaram até o estágio atual; desde que a Diretoria resolveu mudar de rumo, só o mato cresceu sob as novas arquibancadas. Essa embromação já nos custou a Copa das Confederações e ameaça a Copa do Mundo. E a letargia da paralisação das obras é tão mais incompreensível quando sabemos que o dinheiro arrecadado com o leilão do Estádio dos Eucaliptos continua depositado no banco, ao invés de ser aplicado na destinação para a qual o Conselho Deliberativo autorizou a venda: a execução das obras da reforma do Estádio Beira-Rio.

Chega de esperar! O Internacional deve encerrar oficialmente as negociações e voltar a executar as obras por sua própria conta. Se nos faltam hoje os recursos necessários para completar o projeto “Gigante para Sempre” a tempo para a Copa do Mundo, podemos empregar os recursos existentes para terminar a construção do anel inferior das arquibancadas, pavimentar o entorno do Estádio e construir o edifício-garagem. Clubes de menor torcida e capacidade de mobilização podem precisar alienar o patrimônio existente e tornar-se locatários dos próprios estádios. O Clube com o maior quadro de associados do Brasil não precisa fazê-lo. O Clube com a maior Torcida do Sul do Brasil não precisa fazê-lo. A conclusão do projeto “Gigante para Sempre” é a resposta que a Torcida Colorada dará àqueles que, quarenta e poucos anos atrás, duvidaram de sua capacidade para construir um Estádio dentro d’água.

Colocar em campo um time competitivo e tornar rentável o patrimônio do Clube são os principais deveres de qualquer dirigente esportivo. Abrir mão de qualquer uma dessas competências é uma confissão de fraqueza que não combina com a história do Internacional. Desde 1931, somos os donos da nossa própria casa, sem dever nada a ninguém. Quando a casa ficou pequena, a Torcida Colorada construiu a nova morada, a custa de muito esforço: cada saco de cimento, cada vergalhão e cada tijolo assentado foi uma oferenda destinada a purgar os pecados de cada vitória não alcançada e de cada título não conquistado. As vitórias vieram, assim como todos os maiores títulos a que um Clube pode aspirar, como que a comprovar o acerto da ousadia de não se contentar em ser apenas maior, quando se pode ser simplesmente Gigante.

Por isso, conclamamos a Diretoria a encerrar imediatamente as negociações com a empreiteira; se isso não acontecer, conclamamos os Conselheiros a negar aprovação a esse contrato ruinoso; e conclamamos a Torcida Colorada a pressionar a Diretoria e o Conselho Deliberativo para que não cometam o crime de alienar um patrimônio do qual o Clube detém apenas o usufruto, pois o Estádio foi construído pela Torcida e a ela pertence. O Estádio Beira-Rio é propriedade dos Colorados. O Beira-Rio é nosso!

Um comentário:

  1. Como sócio COLORADO concordo plenamente com o movimento O Beira-Rio é Nosso!
    Vamos lutar contra a entrega do patrimônio do INTER.

    André Martins

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